Sunday, June 27, 2010

sábado

Era uma daquelas histórias de amor que já começaram dando errado, mas ele não me deixava ir embora. Me segurava na cama, dizia, 'só mais cinco minutos', e eu, como boa preguiçosa, deixava me envolver por aquele calor nas costas, beijos na nuca e a bagunça dos lençóis. E me amava baixinho, mesmo sabendo que eu era uma daquelas histórias que davam errado - e ainda hoje me pergunto como foi que deu certo. Sobre o não-amor, o que me explicaram é que, quando nos sábados de manhã, céu cinza, calor lá fora e a preguiça na cama, uma conversinha no pé do ouvido nos faz sem querer se apaixonar. Sem querer o querer, mas já o querendo, foi assim que eu quis aquele querer infindo e preguiçoso das manhãs de sábado.

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Monday, June 21, 2010


com pressa, sem medo: a verdade falada no silêncio de duas bocas.

Tuesday, June 08, 2010

arrête là, menina

Ando nua pela casa porque tenho preguiça de me vestir. Tenho preguiça de definir meu humor, decidir minhas indefinições, escolher com que música dançar. Prefeiro pegar o carro e correr até teus lábios. quando éramos, andávamos pelados pela casa, exibindo curvas duvidosas, pele sobrando e um pouco de sensualidade. ainda nos amávamos, e era tão bonito porque aquelas bundas passeavam por todos os metros quadrados sem vergonha e isso significava tanto pra nós como tomar um café e jogar conversa fora na mesa da cozinha. naquele outro dia, quando voltei lá, fazia frio e você me cobriu. não andamos mais nus por aí porque já não nos sentimos mais bem. aliás, não nos sentimos, eu não me sinto, nem sei mais o que sou e não sei escolher roupas ou sapatos ou a maneira de me comportar diante do nosso fim. eu prometo por toda minha vida ser somente tua, eu cantei, você no piano, o encontro de duas peles nuas quentes. era mentira. mentira porque eu nunca soube que nunca teria a oportunidade de entender porque não somos mais dois, e agora só corpos cobertos trabalhando, andando pelas ruas lotadas, amanhecendo nas xícaras de café, correndo para pegar ônibus. eu não gosto dessa realidade, da vida cotidiana, do barulho dos carros. eu gosto de imaginar domingos sentados na chão da sala, despidos em cima do tapete, ouvindo aquela música suave e baixinha, pode ser dave brubeck, pode ser cibelle, você escolhe, chove e entra pela janela uma luz úmida e difusa como nosso amor. imagino também leves toques no piano, eu canto, você me ama, e vivemos os dois simbioticamente sem roupas e sem os pesadelos da rotina.
mas anda muito difícil sentir. esboçar qualquer sentimento, sentir, sabe, aquela coisa que aperta o coração e depois você sente quente dentro. não sinto mais, cortei meus cabelos, minhas unhas e fui embora já sem o coração: deixei nu, sobre o piano, dentro de uma xícara de café, todo pra você, mas agora quero de volta - me mande no primeiro ônibus que puder, ok? e venha junto. sem os compromissos da rotina, sem indefinições, sem tristezas guardadas e - principalmente -sem roupas.