sobre amor
"Existimos, a que será que se destina?" perguntava ela, ainda com o olhar preguiçoso amassado no travesseiro, e ele só sabia dizer que lhe amava. Enquanto passeava com os dedos pelos cabelos do peito, pensava que devia mesmo aquilo ser amor. Uma vontade de permanecer junto. Pertenciam suas vidas muito mais a esfera dos acontecimentos crus e ao entretenimento vazio, já não conheciam aquela ciranda de floreios recém-encontrados. Enquanto caía a tarde, entrava pela janela uma luz difusa e gostosa. Se encontravam em fotografias, nos cantos da casa, em copos de cerveja, quando, num desses momentos decisivos da vida, de boca seca e coração disparado, perceberam que já, certamente, pertenciam um ao outro e que nada restava senão ousarem viver aquele amor fresco como aquela mesma manhã de sábado em que tudo começou.